Ontem foi o frio, hoje o resfriado. É desumano remover-se da cama às seis da manhã no inverno porto alegrense, mesmo que estejamos ainda no outono. E quem me dera que a primeira hora do dia se multiplicasse, e rendesse para todas as minhas tarefas matutinas. E eu teria um dia cheio de manhã, então me aventuraria a uma corrida na praça que não existe nas proximidades de onde vivo, abriria as janelas a admirar o jardim que não possuo, me espreguiçaria ao tomar o primeiro sol do dia, com os pés na grama desenhada no asfalto do corredor entre os prédios da cidade.
Eu me aventuraria a experienciar o contato com toda a criação divina, sentiria o aroma das flores do parque e me perceberia como uma pequena molécula deste imenso organismo. Teria um café da manhã repleto de tudo o que enche os olhos e aquieta o coração, acompanhado de uma doce melodia em espanhol – porque afinal, estudar é preciso.
E eu viajo por todo esse mundo paralelo enquanto espero pelo ônibus atrasado nessa manhã cinzenta, cercado pelas muralhas gris, a minha realidade é outra. Eu vivo em um apartamento estilo JK, com samambaias que descem desde a janela de minha querida vizinha de teto – não sou homem suficiente para matá-las, ou mesmo cortá-las um pouco. E sonho com um dia assim, feito de manhã, especialmente quando chego ao escritório depois do Sr. Alfredo, que diz que vivo nas nuvens e me faz promessas de demissão nunca cumpridas.
Vivo assim, uma vida metódica, simplista. Não tenho grandes pretensões nem mesmo um posicionamento crítico, ou um posicionamento qualquer. Vivo mesmo no meu universo particular, nos meus dias poéticos. Até que o Sr. Alfredo me desperte aos gritos, solicitando o último relatório mensal de despesas da firma.
Quem dera ele cumprisse com as suas promessas.
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