sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Amo ser Mulher

Não há um dia em minha vida que eu lembre de ter desejado nascer homem. Conheço muitas mulheres que já disseram isso, a sério ou por brincadeira. Mas eu mesma, sempre me agradei de ser menina, e então mulher. E mais especificamente nos últimos anos, quando comecei a prestar atenção em meu corpo (fisiologicamente, psicologicamente, espiritualmente e porque não historicamente) me tornei mais grata por ter nascido assim, ou melhor, por ter a oportunidade de me tornar mulher.

Há uma frase de Simone de Beauvior, citada pela nossa queridíssima futura psicóloga aqui que para mim, começa a fazer sentido.
Mas voltando ao assunto, sempre me interessei por assuntos polêmicos e que causam certo desconforto em muita gente (aborto, eutanásia, empoderamento, humanização). Juntando essa frase com tudo que tenho visto e estudado, eu diria que tornar-se mulher é empoderar-se.
Sim, eu amo ser mulher, eu acho lindo o corpo feminino, em sua forma bruta, com todos os “defeitos” que nos convenceram que temos, com todas as “dobrinhas desnecessárias”, eu amo cada parte do meu corpo, amo a forma como ele funciona tão perfeitamente como um reloginho. Tente estudar um pouco sobre o seu ciclo menstrual. Você percebe a forma maravilhosa e perfeita como funciona seu corpo (caso não faça uso de anticoncepcional). E percebe que é único, só o seu corpo funciona desse jeito. Quando você se empodera de si mesma, ninguém pode dizer que algo está errado com você, não há teoria médica que te convença do contrário, porque você entende que o seu corpo está sim funcionando. E isso não acontece com o homem, o corpo dele não evolui não se altera não se renova a cada ciclo. Só nos, mulheres, temos a graça de contar o tempo de uma forma única, em ciclos, e o seu ciclo não é igual o da sua amiga.
Me entristece ver mulheres se menosprezando, se moldando à cultura em que estão inseridas, comprando valores que qualquer um vende. Me entristece conhecer mulheres que passarão em branco por esse mundo, que não se aceitam, que não se amam, que pensam que seu corpo é um parque de diversões alheio, que precisa ser repaginado de tempos em tempos para contentamento dos clientes. Me entristece ver mulheres que pensam que um parto normal vai estragar o seu “parquinho”, que chamam sua vagina de “parquinho”, que não amamentam porque os seios são sexualizados e de propriedade exclusiva do parceiro. Me entristece ver mulheres que não influenciam positivamente o mundo, se antigamente por trás de um grande homem havia uma grande mulher, hoje somos vistas ao lado de grandes homens, é o nosso brilho que os sustenta. Hoje vemos famílias com diagramações completamente diferentes e felizes. Hoje, por exemplo, minha irmã pode fazer um curso em outro estado por um mês enquanto meus sobrinhos estão sob os cuidados do meu cunhado. Hoje mulheres são arrimo de família, e seus salários muitas vezes são o principal dentro de casa. Há alguns anos atrás, minha mãe se viu sozinha com quatro filhos, e nos criou muito bem obrigada, como mãe, mulher, trabalhadora e apegada, e presente. Hoje mulheres podem escolher ser mãe em tempo integral mesmo com todas essas possibilidades.
Viver é um eterno tornar-se. Eu acredito ainda que diariamente nos tornamos mulher. Quando questionamos, passamos por cima do sistema, da mídia, da publicidade, do photoshop e das cirurgias desnecessárias.
"Eu nunca vou me render. Vai contra a minha moral, a maneira que meus pais me criaram e o que eu considero ser a beleza natural." Kate Winslet (Liga Britânica Contra Cirurgias Plásticas)
Mudar a forma do meu corpo vai contra a minha moral também. E aqui cabe inclusive um relato que infelizmente não lembro onde li, mas em que uma mulher falava das estrias que nasceram em sua gravidez, e no carinho com que ela olhava para essas “marcas” deixadas pela gestação de um novo ser. Não há como ser mulher e não guardar cicatrizes, faz parte do tornar-se. Nossas cicatrizes mais profundas não são visíveis, e não aceitamos quando uma marca profunda aparece em nossa pele. Seja em forma de um cabelo branco, uma ruga, uma estria.
Sim, eu pinto o cabelo, mas não o faço para agradar a ninguém, comecei a pintar antes de ter cabelos brancos. Nunca deixei de cortar ou pintar meu cabelo por discordância de um homem. Meu corpo não é a tua sala de estar que tu decora como quiser. A minha natureza hoje é muito mais fêmea no sentido mais irracional da coisa. Acredito que o nosso corpo foi criado de uma forma perfeita e única.
Quando uma amiga começou a fazer academia ela me contou que o professor perguntou com quem ela gostaria de se parecer no final, qual era seu objetivo. Isso me levou a conclusão que ele se arrependeria muito de fazer uma pergunta dessas para mim, pois eu responderia que quero me parecer comigo, que meu corpo não me incomoda e meu único interesse na academia é me tornar mais saudável.
Sim, sou permissiva às vezes, faço muitos agrados para o meu parceiro, mas porque o amo. Esses agrados não me tornam menos eu, não me apagam. Já perguntei se ele concordava em eu cortar ou pintar o cabelo, mas não deixei de fazer algo que eu queria para satisfazer outra pessoa.
Não, eu não tenho o direito de julgar ninguém pelo que faz ou deixa de fazer. Não me acho mais mulher nem menos mulher que ninguém exatamente pela certeza que cada uma de nós é única. Assim como eu me sinto mulher fazendo as coisas como faço, talvez você precise de outras coisas, só me incomoda a falta de autenticidade, de criatividade e argumentos. Seja quem você é, mas não se minimize pelos outros. E se você discorda de mim, mas é bem resolvida, tenho certeza que esse texto não te incomodou.

P.S: Amiga, desculpa citar o blog abandonado, por favor não apaga ele nunca, ele sempre será atual e eu ainda leio e amo *-*

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